em caso de emergência, leve o hamster

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Vi um trecho incrível do livro Big Questions From Little People (o texto original está no Brainpickings, que é simplesmente maravilhoso) e resolvi traduzir por aqui, em caso de utilidade futura:

“Você não cai de amores como se caísse em um buraco. Você cai como se estivesse flutuando no espaço. É como se você pulasse para fora do seu próprio planeta para visitar o planeta de outra pessoa. E quando você chega, tudo parece diferente: as flores, os animais, as cores das roupas que as pessoas usam. É uma grande surpresa se apaixonar, porque você pensava que tudo estava bem no seu próprio planeta. E isso é verdade, de certa forma, mas aí alguém mandou um sinal para você através do espaço e a única forma de visitar esse lugar era dando um enorme salto. E lá está você, caindo na órbita de outra pessoa, e de repente você decide juntar os dois planetas e chamá-los de “casa”. E você pode trazer seu cachorro. Ou seu gato. Seu peixinho dourado, hamster, sua coleção de pedras, todas as suas meias esquisitas. (Aquelas que você perdeu – e até os buracos delas – estão nesse novo planeta que você descobriu).

E você pode chamar seus amigos para visitar vocês. Ler suas histórias favoritas um para o outro. Aquela queda foi realmente o grande salto que você teve que dar para estar com alguém com quem você quer estar sempre. É isso.

PS: você tem que ser corajoso.”

um engradado de estrelas

Já é a segunda vez que eu começo um post sobre esse fim de semana tão inspirador. Do primeiro, não gostei muito: técnico demais, links demais. Acabou ficando um post pesado para um assunto leve.

Queria falar do TED, esse evento fantástico que volta e meia aparece na minha vida, jogando um balde de inspiração e piração nela. Queria falar da palestra da Amanda Fucking Palmer, que você devia assistir agora, antes que eu assista pela quinta vez. Queria agradecer o convite do André Gravatá para assistir ao TedxJovem @RuaAugusta, que aconteceu nesse sábado e mais uma vez me fez pensar em pessoas e as coisas maravilhosas que elas criam.

E as coisas ainda mais maravilhosas que elas dizem sobre aquilo que criam. A paixão, a inspiração, o brilho no olho, está tudo lá, sempre. Se dizem que amor é o sentimento mais nobre, imagine a nobreza que deve ser compartilhar o seu amor e replicá-lo a modo de atingir os outros, como disse tão bem o Marcelo Yuka na palestra dele no TedxJovem. Compartilhar o amor com o seu trabalho, aquilo que você vai fazer todos os dias, como disse a Marcella Coelho, na palestra dela, sobre “empreendedores de utopias”. Transformar seus sonhos e desejos em edifícios, em projetos palpáveis. 2013 está se saindo um ano fantástico para apreender ideias como essas.

Por mais fins de semana com poesia em cima da cadeira e projeções andando pelas paredes. Por mais Amanda Palmer falando, com a voz embargada, das pessoas que levavam comida feita em casa para compartilhar nos shows dela, porque acreditam na arte e se conectam com ela. Por mais gente dizendo o que faz e o que busca em paredes de vidro, encontrando outras formas de se conectar. Por gente, muito mais gente, acreditando no poder das histórias e das trocas entre pessoas. Por quem acredite no coletivo. Por mais disso tudo colocado na prática.

Por mais mãos à obra. Porque não há resultado sem trabalho duro, sem noites de couchsurfing, sem esforço.

Foi um lindo fim de semana para acreditar na humanidade, afinal.

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(roubei essa imagem da página do Alexandre Oyamada, outro palestrante do TedxJovem. A palestra dele, que abriu o evento, era sobre espalhar poesia pela cidade, com o projeto Mais Poesia. No intervalo do evento, ele deixou trechos de poemas sobre as cadeiras dos espectadores. Calhei de receber este:

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E como caiu bem. Obrigada, 2013! :))

um post sobre cores e sonhos

Dificilmente eu escrevo sobre artes plásticas por aqui (ou em qualquer outro lugar). Não me considero, neeem de longe, uma conhecedora do assunto – e se estiverem procurando por uma, recomendo a casinha da minha muito querida amiga e fã-de-brigadeiros Karis. Mas hoje foi um dia de boas descobertas, e queria compartilhar isso com alguém. Vai sobrar pra você que ainda lê esse blog. 🙂

Uma das minhas lembranças mais fortes da escola foi uma aula de Educação Artística sobre o van Gogh. Se eu dissesse que não sei o motivo de lembrar dessa aula, estaria mentindo: eu lembro muito bem. Fiquei bastante impressionada com a história do cara que (em tese) cortou a própria orelha e depois pintou a si mesmo com uma faixa ao redor da cabeça. Não lembro qual foi minha opinião sobre isso na época, mas sei que me marcou. E o que aconteceu é que, em algum momento entre essa aula e esse post, Vincent van Gogh se tornou meu pintor favorito. Digo isso sem remorso nenhum.

(Ou quase. Desculpa, Velázquez. Ainda amo muito As Fiandeiras, tá?)

Claro que outros fatores ajudaram. O primeiro (e talvez o mais forte) foi este, que minha desinformação me fez acreditar que ia dar para ver no Museé d’Orsay (e não deu. Mas tudo bem. Tinha van Gogh pra todo mundo por lá. :)):

 

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O segundo motivo foi o fato do ~Vincent~, esse meu parça, ser uma máquina de inspiração. E de cores. Sem falar na convicção que tinha sobre o próprio trabalho, ainda que fosse visto como um maluco por seus contemporâneos.

 

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Terceiro: eu e ele compartilhamos a mesma paixão por girassóis. A constante presença dessas flores nas pinturas me deu material suficiente para amá-lo incondicionalmente pelo resto da vida. Fim. 🙂

Por causa desses motivos todos, e de muitos outros que não vou ficar esmiuçando aqui, decidi começar um projeto – para mim mesma – de conhecer van Gogh mais a cada dia. Aos pedacinhos, sem pressa e sem pressão, mas sempre que possível. Confesso que tô num deslumbramento muito doido, sentindo orgulho de um cara que nunca vi na vida. Por isso, passo alguns minutos do meu dia montando uma pasta só dele no meu Pinterest. Espero deixar tudo mais arrumadinho e documentado, mas se você quiser olhar e se deslumbrar também, fique à vontade.

Nessa de remexer a internet atrás do van Gogh, acabei descobrindo outros dois artistas maravilhosos hoje. E estou em busca de outros, muitos outros, que usem cores desse mesmo jeito mágico, fantástico, sonhador. Digamos que é parte de outra coisa que estou tramando. 🙂

Entããão. Para quem não conhece (como era meu caso, até hoje cedo), este é o Leonid Afremov:

 

 

E este, recomendado pela Nana (outra amiga tão tão querida <3), é Naohisa Inoue:

 

 

Então, pessoa que por alguma razão misteriosa está me lendo, esse post é um apelo: se você conhece um pintor apaixonante, deixe a sua recomendação nos comentários. Bota pra quebrar. Me conta tudo. 🙂

as vantagens de ser infinito

Saí da sessão de “As Vantagens de Ser Invisível” (ou no original, “The Perks of Being a Wallflower”) com o coração meio moído. Meu plano original era ter visto esse filme no meu último dia de Inglaterra, 3 de outubro, depois de ter passado um ano (e uns quebrados) explorando as terras do outro lado do oceano. Fui assistir hoje, exatamente um mês depois de ter entrado no avião.

Desde que cheguei, tenho tentado encontrar as palavras certas para definir o que foi o meu último ano e o quanto ele significou para mim. Por essas e outras, fiquei feliz de ter visto o filme só hoje. Se tivesse assistido naquela ocasião, acho que não teria chegado inteira, porque teria chorado todos os 70% de água do meu corpo. A resposta que eu buscava – pelo menos parcialmente – estava no filme o tempo todo.

As Vantagens… conta a história de Charlie (Percy Jackson Logan Lerman), o invisível do título, que passou por barras tremendas ainda muito jovem e cresceu sem amigos. A situação dele muda ao conhecer Sam (Hermione Granger Emma Watson) e Patrick (Ezra Miller), que transformam a vida dele no exato oposto das noites confusas e dolorosas que o aterrorizavam. Eles são exatamente o que Charlie precisava o tempo todo – e ponto final. (Na verdade, tudo é mais complicado na vida do Charlie, maaas vocês que assistam ao filme pra entender melhor. Um beijo) Em um dos momentos mais a-vida-é-linda do filme, o Charlie fala aquela frase que provavelmente você já viu por aí caso tenha um Tumblr e siga menininhas apaixonadas por garotos de cabelo escuro e olhos claros:

“And it that moment, I swear we were infinite.”

E eu entendi. Eu saquei tudo o que eu precisava falar sobre essa viagem. Eu entendi o filme.

Eu lembro de momentos em que me senti infinita. Eu lembro daquela noite em que estávamos eu e eles na minha casa, rindo e jogando conversa fora, tarde da madruga. De repente ele levanta e liga a lâmpada que projeta estrelas no teto e começa a brincar com as sombras, contando histórias. Todo mundo rindo de pijamas, e ele com aquela voz de Mufasa.

Eu lembro da vez em que estávamos os quatro em uma montanha russa. Era a maior de todas, a mais rápida, a mais intensa. Era uma das primeiras vezes que eu andava de montanha russa na vida (e já estava meio verde por causa das outras que vieram antes), mas naquele momento, ele virou pra mim e disse que o segredo era manter os olhos abertos o tempo todo, coisa que eu tinha evitado fazer por causa do medo. Daquela vez, eu abri os olhos o tempo inteiro. Era incrível. Xinguei à beça e em todas as línguas que eu conhecia, simplesmente saiu de mim, nem sei de onde. A gente gargalhou por horas depois disso.

Lembro da noite em que ela chorou do lado de fora da casa enquanto ele beijava outra do lado de dentro. Lembro de sentar no sofá e ouvir o maior segredo dele, e subitamente entender que estava todo mundo bêbado demais para analisar aquela noite friamente. Lembro da balada mais maluca da minha vida, e dos shows de dança que minha amiga dava.

Lembro de pisar na Escócia pela primeira vez, sozinha, e voltar para o hostel com um milhão de novos amigos. Lembro do ghost tour feito durante a noite, ouvindo lendas antigas e pisando em cemitérios que eu evitaria sequer passar na frente durante o dia. Lembro de pisar em ruas de pedra medievais na Bélgica e sentir vidas do passado respirando por baixo daquilo tudo. Lembro de ir pra Manchester e visitar a feira de natal mais bonita que ejá vi, ao lado de uma das pessoas mais maravilhosas que a vida empurrou pra mim, e que – acredito – deve  se sentir infinita umas seis vezes ao dia. Lembro de dançar Amanda Palmer no volume máximo dentro de casa e isso ser tudo o que eu fiz no dia.

Eu sei o que é se sentir infinito. É se sentir arte, se sentir universal. Se sentir gigante e misturado às estrelas. É se sentir feliz e livre – sem mas. Sem poréns. Sem até quês.

Quando eu voltei, achei que tinha perdido isso tudo. Pensei, sinceramente, que jamais me divertiria daquele jeito de novo, correndo o risco de ser ingrata e turrona. Eu sinceramente vivi tantos sonhos quanto pude imaginar nessa viagem. Cheguei à conclusão, com todo o coração e toda a cabeça, que as memórias um dia venceriam, e eu seria aquela pessoa de olhar apagado, que ia atormentar os outros com lembranças que não interessam a mais ninguém. A tia velha e maluca, parada no tempo, congelada em Liverpool que nem a bandeira do Divino Futebol Clube no último episódio da novela (sim, eu vi Avenida Brasil quando voltei. Adorei. Não perturbem)

Foi aí que eu me toquei sobre como estava sendo uma completa idiota.

Querer viver das lembranças não é apego ao passado – é mesquinho. É se privar de todas as coisas – sim, boas e ruins – que a vida tá louca para te oferecer, e a gente passa reto. É negar viver aventuras e experiências porque as memórias estão ali, mais quentinhas, confortáveis e obedientes. É viver um caso de amor com o passado, sendo que o passado já tá em outra. Viver de lembranças é esquecer de si mesmo.

Tudo isso foi lindo, foi mágico, e naquele instante, foi infinito e me fez infinita. Sim. Mas a vida é mais do que colecionar momentos infinitos; é buscar os próximos, ou pelo menos tentar fazê-los acontecer. É se sentir enlevado (palavra favorita) ou encantado (segunda palavra favorita!) e espalhar isso para quem a gente alcançar. É a minha sensação favorita, pelo menos.

Não sei se um dia a gente encontra um lugar no mundo. Talvez a graça seja se encontrar em vários lugares. Talvez a graça seja saber que em todos os lugares onde seu coração mora, você mora também.

Talvez a graça seja acenar o trem esperando pelo próximo encontro.

Por uma vida com mais vento no cabelo, monstros gigantes feitos de estrelas e novos momentos com as pessoas que amo e ainda vou amar um dia. Já tá mais que bom. =)

(Mas Logan Lerman, te juro, difícil engolir que você passa despercebido por aí.)

escreva

oiê.

deixa eu limpar a poeira aqui um pouquinho e deixar isso aqui:

é com essa mentalidade que começo, em míseros quatro dias e trinta e cinco minutos, o NaNoWriMo: um projeto em que escreve-se uma ficção de cinquenta mil palavras em apenas um mês. É ambicioso, é maluco, e parece impossível, mas não é. No fim de novembro, eu vou ter uma novela de cinquenta mil palavras sobre uma jornada que eu sempre quis contar.

e da vida, se sobrar algo dela, eu falo logo mais.

🙂